Aprendizagem dos alunos
sábado, 10 de dezembro de 2011 by Reciclagem de Artigos in

Pedro Demo (UnB, 2008)
Entre propostas que tenho feito para melhorar a aprendizagem dos alunos está, sempre, a expectativa de superar a aula instrucionista, porque ela, ao contrário do que se crê piamente, tolhe a aprendizagem. Muitos docentes recebem mal esta sugestão, porque continuam apegados ao estilo tradicional de “ensinar”, “instruir”, “treinar”. Apesar de todas as agruras dos professores - que são inúmeras, e algumas inaceitáveis - em geral eles gostam de dar aula. A definição mais corriqueira de professor é dar aula. Freqüentemente ouço que aula é “cachaça”, a ponto de não importar muito o que se paga por ela. Alguns professores, ocupados em suas profissões específicas, aparecem na escola e principalmente na universidade só para dar aula, e vêem nisso um jeito atraente de continuarem vinculados ao contato com estudantes. Alguns são “horistas”, no sentido de que dão uma ou outra aula, como atividade lateral, eventual; outros vivem disso, dando aula em vários lugares, para ganharem melhor. Em sentido bem concreto, aula é xodó de professor. Ele gosta de aula, em geral, muito mais que os alunos.
Entretanto, na dinâmica dos novos tempos marcados por novas tecnologias e novos ambientes de aprendizagem, aula está se esvaindo, porque corresponde a um gesto completamente obsoleto: transmitir conhecimento, conforme a carga curricular. Na percepção de todos os grandes educadores, como Sócrates, Piaget, Vygotsky, conhecimento não se transmite. Se constrói, desconstrói e reconstrói. O que se transmite é informação digitalizada. Esta pode ser gravada, armazenada, guardada, enviada, em sua condição de sintaxe. Já conhecimento, como dinâmica semântica, existe na e como dinâmica desconstrutiva e reconstrutiva. Podemos, então, visualizar a aula ou como expediente de transmissão - aí não faz mais que lidar com informação disponível - ou como expediente de reconstrução de conhecimento - aí é tipicamente dispositivo auxiliar, cujo sentido é promover a construção de conhecimento, não sua substituição.
Neste texto procuro circunscrever o papel da aula hoje, levando em conta novos ambientes de aprendizagem e sua função como instrumento possivelmente pertinente de estudo, pesquisa e elaboração. O sentido da aula é a aprendizagem do aluno. Se esta não ocorrer, não há aula que possa ser apreciada.
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http://pedrodemo.sites.uol.com.br/textos/xodo.html