FICHAMENTO A Psicopedagogia no Brasil
quinta-feira, 19 de novembro de 2009 by Reciclagem de Artigos in

BOSSA, Aparecida Nádia. A psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da pratica. 2ª ed.-Artmed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000
Psicopedagoga,
Mestre em Psicologia da educação pela PUC-SP.
Doutora em Psicologia e Educação pela USP.
Fundamentos da Psicopedagogia

[...] A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem não se basta como aplicação da psicologia á pedagogia. (p.17)

[...] Penso que a psicopedagogia, como área de aplicação antecede o status de área de estudos, a qual tem procurado se sistematizar um corpo teórico próprio, definir o seu objeto de estudo, delimitar o seu corpo de atuação e para isso recorre à psicologia, psicanálise, lingüística, fonaudiologia, medicina, pedagogia. Podemos citar alguns profissionais brasileiros que objetivam dar a sua contribuição na formação desse corpo teórico, começando por tentar definir a psicopedagogia. (p.18)

[...] Para Maria M. Neves, ”falar sobre psicopedagogia é necessariamente, falar sobre articulação entre educação e psicologia, articulação essa que desafia estudiosos e praticas dessas duas áreas. Embora quase sempre presente no relato de inúmeros trabalhos científicos que tratam principalmente dos problemas ligados a aprendizagem, o termo psicopedagogia não consegue adquirir clareza na sua dimensão conceitual. (p.18)

[...] Vejamos qual é a definição do objeto de estudo da psicopedagogia segundo alguns psicopedagogos brasileiros. (p.19)

Psicopedagogia segundo Kiguel:
[...] Segundo Kiguel “o objeto central de estudo da psicopedagogia esta se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos – bem como a influencia do meio (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento” (p.19)

[...] De acordo com Neves, ”a psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe são implícitos”. (p.19)

[...] Segundo Scoz, “a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os” [p.19]

[...] Para Golbert: “o objeto de estudo da psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico”(p.19).

[...] Para Rubinstein “o objetivo principal da psicopedagogia é a investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem considerando todas as variáveis que intervém nesse processo”(p.20)

[...] Do ponto de vista de Weiss “a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores. (p.20)

[...] A concepção de aprendizagem é resultado de uma visão de homem, e é em razão desta que acontece a práxis psicopedagogica. (p.20)

[...] podemos observar esse pensamento traduzido nas palavras de profissionais argentinos que atuam na área e que estão envolvidos no trabalho teórico. Para eles
“a aprendizagem com seus problemas” constituiu-se no pilar-base da psicopedagogia
(p.20).

[...] O objeto de estudo da psicopedagogia passou por fases distintas, assim como os demais aspectos dessa área de estudo.(p.22)

[...] O objeto de estudo era o sujeito que não podia aprender, concebendo-se a “não-aprendizagem” (p.22)

[...] Posteriormente, a psicopedagogia adotou a noção de “não-aprendizagem” de outra maneira: o não aprender é tido como carregado de significados, e não se opõe ao aprender.(p.22)

[...] Essa fase de psicopedagogia é fundamentada especialmente na psicanálise e na psicologia genética (p.22)

[...] O processo evolutivo pelo qual essa nova área de estudo procurou estruturar-se entende que o objeto de estudo é sempre o sujeito “aprendendo”, como se refere Alicia Fernández. (p.22)

[...] O trabalho pedagógico pode ser preventivo e clinico. (p.22)

[...] No trabalho preventivo podemos falar em diferentes níveis de prevenção (p.22)

[...] No primeiro nível, o psicopedagogo incide nas questões didatico-metodologicas, bem como na formação e orientação de professores, além de fazer aconselhamento aos pais. (p.22-23)

[...] No segundo nível cria-se um plano diagnostico da realidade institucional e elabora-se planos de intervenção baseados nesse diagnostico, a partir do qual procura-se avaliar os currículos com os professores, para que não se repitam tais transtornos.(p.23)

[...] No terceiro nível o caráter preventivo permanece ai, uma vez que, ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de outros (p23).

[...] No exercício clinico, o psicopedagogo deve reconhecer a sua própria subjetividade reconhecer de que modo se da a aprendizagem, bem como as leis que regem esse processo: as influencias afetivas e as representações inconscientes que acompanham, o que pode comprometê-lo e o que pode favorecê-lo (p.23).

[...] Para Alicia Fernández, esse saber só é possível com uma formação que se oriente sobre três pilares; pratica clinica, construção teórica e tratamento Psicopedagogico didático (p.23-24).

[...] Ainda de acordo Alicia Fernández “todo sujeito tem a sua modalidade de aprendizagem, ou seja, meios, condições, e limites para conhecer”(p.24)

[...] Faz-se necessário construir, pois uma teoria psicopedagogica fundamentada em conhecimentos de outros corpos teóricos, que, ressignificados, embasem essa pratica (p.24).

Teorias que embasam o trabalho Psicopedagogico

[...] Conhecer os fundamentos da psicopedagogia implica refletir sobre as suas origens teóricas... (p.25)

[...] Do seu parentesco com a pedagogia, a psicopedagogia traz as indefinições e contradições de uma ciência cujos limites são os da própria vida humana (p.25)

[...] Da psicologia a psicopedagogia herda o velho problema do paralelismo psicofísico, um dualismo que ora privilegia o físico (observável) ora o psíquico (a consciência) (p25).

[...] Essas duas áreas não são suficientes para apreender o objeto de estudo da psicopedagogia – o processo de aprendizagem e suas variáveis – e nortear as sua pratica (p.25)

[...] Os autores brasileiros Neves, Kiguel, Scoz, Golbert, Rubinstein, Weiss, Barone e outros, assim como os argentinos Fernández, Paín, Visca, Muller, são unânimes quanto a necessidade de conhecimentos de diversas áreas que, articulados devem fundamentar a constituição de uma teoria psicopedagogica (p.25)

[...] “A psicopedagogia terapêutica segundo Kiguel “é um campo de conhecimentos relativamente novo que surgiu na fronteira entre a pedagogia e a psicologia (p.25-26)

[...] A pratica psicopedagogica vem colocando questões ainda pouco discutidas, de manejo difícil e geradoras de conflito. Isto porque seu ‘paciente’, o sujeito com dificuldade de aprendizagem, apresenta, quase sempre, um quadro de comprometimentos que extrapola o campo de ação específico de diferentes profissionais, envolvendo dificuldades cognitivas, instrumentais e afetivas 9p.26).

[...] Devido a complexidade do seu objeto de estudo, são importantes á psicopedagogia conhecimentos específicos de diversas outras teorias, as quais incidem sobre os seus objetos de estudos por exemplo: a psicanálise,a psicologia social, a epistemologia e a psicologia genética, a lingüística, a pedagogia e os fundamentos da neuropsicologia (p.26).

[...] Ora nenhuma dessas áreas surgiu especificamente para responder a problemática da aprendizagem humana. Elas, no entanto, nos fornecem meios para refletir cientificamente e operar no campo Psicopedagogico, o nosso campo (p.26).

[...] Os profissionais da psicopedagogia, como quaisquer outros profissionais, sustentam a sua pratica em pressupostos teóricos muitas vezes distintos, conforme já referido antes (p.27).
[...] Podemos caracterizar a psicopedagogia como uma área de confluência do psicológico (a subjetividade do ser humano enquanto tal) e do educacional (atividade especificamente humana, social e cultural) (p.28)

[...] Nesse trabalho de ensinar a aprender, o psicopedagogo recorre a critérios diagnósticos no sentido de compreender a falha na aprendizagem (p.29)

[...] Esse diagnostico consiste na busca de um saber para saber-fazer (p.29)

[...] Durante esse processo de intervenção, o profissional não abandona o olhar interpretativo que caracteriza a pratica psicopedagogica (p.29)

[...] A leitura do diagnostico pode variar segundo cada profissional, em função de sua formação, dos marcos referenciais que sustentam a sua pratica e a abordagem teórica com a qual ele se identifica (p.29).

[...] O conhecimento Psicopedagogico não se cristaliza numa delimitação fixa, nem nos déficits e alterações subjetivas do aprender, mas avalia a possibilidade do sujeito, a disponibilidade afetiva de saber e de fazer, reconhecendo que o saber é próprio do sujeito (p.29).


O campo de atuação da psicopedagogia

[...] O campo de atuação do psicopedagogo refere-se não só ao espaço físico onde se dá esse trabalho, mas especialmente ao espaço epistemológico que lhe cabe, ou seja, o lugar deste campo de atividade e o modo de abordar o seu objeto de estudo (p.20).

[...] a forma de abordar o objeto de estudo pode assumir características especificas, a depender da modalidade; clinica, preventiva, e teórica... (p.29).

[...] a psicopedagogia ocupa-se de todo contexto da aprendizagem, seja na área clinica preventiva assistencial, envolvendo elaboração teórica no sentido de relacionar os fatores envolvidos nesse ponto de convergência em que opera (p.30).

[...] esse trabalho consiste numa leitura e releitura do processo de aprendizagem e do processo de não-aprendizagem, bem como da aplicabilidade e conceitos teóricos que lhe dêem novos contornos e significados, gerando praticas mais consistentes. (p.30).

[...] historicamente, a psicopedagogia nasceu para atender a patologia da aprendizagem, mas ela se tem voltado cada vez mais para uma ação preventiva, acreditando que muitas dificuldades de aprendizagem se devem á inadequada Pedagogia institucional e familiar. (p.31).

[...] segundo Lino de Macedo, o psicopedagogo, no Brasil, ocupa-se das seguintes atividades: orientação de estudos, apropriação dos conteúdos escolares, desenvolvimento de raciocínio, atendimento de crianças (p.31).

[...] para Janine Mery, o psicopedagogo é um professor de um tipo particular que realiza a sua tarefa de pedagogo sem perder de vista os propósitos terapêuticos da sua ação (p.31).

[...] assim, tanto no seu exercício na área educativa como na da saúde, pode-se considerar que o psicopedagogo tem uma atitude clinica frente ao seu objeto de estudo. Isto não implica que o lugar de trabalho seja a clinica, mas se refere ás atitudes do profissional ao longo da sua atuação (p32).

A psicopedagogia no Brasil e na Argentina

[...] O movimento da Psicopedagogia no Brasil remete ao seu histórico na Argentina (p.35)

[...] As idéias dos argentinos muito têm influenciado a nossa pratica (p.35)

[...] A psicopedagogia não nasceu aqui e tampouco na Argentina (p.36)

[...] A preocupação com os problemas de aprendizagem teve origem na Europa, ainda no século XIX.(p.36)

[...] No que tange á escola, os testes procurarão explicar as diferenças de rendimento dos alunos e o acesso diferenciado aos diversos graus de escolarização. Este conhecimento produzido cientificamente, portanto verdadeiro e único, será a base do pensamento reinante entre psicólogos e educadores a respeito das causas do fracasso escolar. (p.37)

[...] Foi o enfoque orgânico o primeiro a orientar médicos, educadores e terapeutas na definição dos problemas de aprendizagem (p.37).

[...] A criança que não conseguia aprender era taxada como “anormal,” devido á interpretação de que a causa de seu fracasso era atribuída a alguma anomalia anatomofisiologica (p.37)

[...] O termo psicopedagogia curativa, adotado por Janine Mery, é usado para caracterizar uma ação terapêutica que considera aspectos pedagógicos e psicológicos no tratamento de crianças que apresen-tam fracasso escolar. (p.37)

[...] Conforme Mery, em 1946 foram fundados e chefiados por J.Boutonier e George Mauco os primeiros Centros Psicopedagogicos, onde se buscava unir conhecimentos da Psicologia, da Psicanálise e da Pedagogia para tratar comportamentos socialmente inadequados de crianças, tanto na escola como no lar, objetivando a sua readaptação. (p.39).

[...] Através dessa cooperação Psicologia-Psicanalise-Pedagogia, esperavam adquirir um conhecimento total da criança e do seu meio, o que tornaria possível a compreensão do caso (p.30).

[...] O Centro Psicopedagogico, aberto em Paris em 1946 teve desde o inicio uma dupla direção; medica e pedagógica. (p.39)
[...] A pedagogia curativa “situa-se no interior daquilo que hoje chamam de Psicopedagogia” (p.39)

[...] Segundo Sara Paín, psicopedagoga argentina, o objetivo do tratamento Psicopedagogico é o desaparecimento do sintoma e a possibilidade do sujeito aprender normalmente em condições melhores... (p.39)

[...] Scoz define a psicopedagogia como “área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas dificuldades e que, numa ação profissional, deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sistematizando-os” (p.40)

[...] Conforme afirma o professor Lino de Macedo, ”a psicopedagogia é uma (nova) área de atuação profissional que tem, ou melhor, busca uma identidade e que requer uma formação de nível interdisciplinar (o que já é sugerido no próprio termo psicopedagogia)” (p.40)


Traços Históricos da Psicopedagogia na Argentina

[...] Segundo Alicia Fernández, “Um espaço importante de gestação do saber Psicopedagogico é o trabalho de auto-análise das próprias dificuldades e possibilidades no aprender, pois a formação do psicopedagogo, assim como requer a transmissão de conhecimentos e teorias, também requer um espaço para a construção de um olhar e uma escuta psicopedagogica a partir de uma análise de seu próprio aprender” (p.40)

[...] Segundo Alicia Fernández, a graduação em Psicopedagogia surgiu há mais de trinta anos na Argentina, sendo quase tão antiga quanto a carreira da Psicologia...(p.40).

[...] Na pratica, a atividade psicopedagogica iniciou-se antes da criação do próprio curso. (p.40)

[...] viram a necessidade de ocupar um espaço que não podia ser preenchido pelo psicólogo nem pelo pedagogo. Desta maneira, começaram fazendo reeducação, com o objetivo de resolver fracassos escolares (p.40).

[...] esta dedicação, quase exclusiva, os levou a produzir toda uma metodologia sobre a chamada dificuldade de aprendizagem, dando origem á atual Psicopedagogia (p.41).

[...] Alicia afirma que Buenos Aires foi a primeira cidade da Argentina a oferecer uma Faculdade de Psicopedagogia. (p.41).

[...] A psicopedagogia inscreve-se no âmbito pedagógico, dado a necessidade de orientar o processo educativo, oferecendo um conhecimento mais profundo dos processos de desenvolvimento, maturidade e aprendizagem humana (p.41).

[...] A psicopedagogia tem ocupado um significativo espaço no âmbito da educação e da saúde. (p.41)

[...] A função do psicopedagogo na área educativa é co-operar para diminuir o fracasso escolar... (p.42).

[...] Através de assessoramento aos pais, professores, e diretores, para que possam decidir e opinar na elaboração de planos de recreação, cujo objetivo é o desenvolvimento da criatividade, do juízo critico e da cooperação entre os alunos (p.42).

[...] Sua função é reconhecer e atuar sobre as alterações da aprendizagem sistemática ou assistemática. (p.42)

[...] Participam do processo diagnóstico tanto o sujeito quanto os pais. (p.42).

[...] Com os pais, fazem entrevistas cujo objetivo é levantar hipóteses relativas a “quem são os consultores, que mensagem tentam transmitir através de suas palavras e de seus silêncios, como vivenciam o problema de aprendizagem de seu filho, que fantasias criam a respeito das intervenções terapêuticas, por que e para quem o paciente apresenta dificuldades. (p.42).

[...] Com as crianças, os instrumentos empregados são mais variados, recorrendo o psicopedagogo argentino, em geral, a: provas de inteligência; provas de nível de pensamento; avaliação do nível pedagógico; avaliação perceptomotora; testes projetivos; testes psicomotores; hora do jogo Psicopedagogico. (p.42).

[...] Qualquer que seja a técnica empregada no diagnostico, o resultado deve ser encarado numa perspectiva dinâmica, de forma a orientar a busca de soluções e não como um fim em si mesmo. (p.43).

[...] É de fundamental importância um bom domínio da teoria que as fundamenta. (p.43).

[...] Algumas das situações experimentais propostas por Piaget são utilizadas no estudo do desenvolvimento cognitivo para situar o nível em que se encontra o pensamento do sujeito (p.430.

[...] A forma de administração dessas avaliações varia entre os psicopedagogos (p.44)

[...] A atuação dos psicopedagogos no Brasil, por seu turno, difere em alguns pontos da situação na Argentina, sobretudo no que concerne á prática , devido principalmente ás condições de formação...(p.48).

Percursos da Psicopedagogia no Brasil

[...] A crença de que os problemas de aprendizagem eram causados por fatores orgânicos perdurou por muitos anos e determinou a forma de tratamento dada á questão do fracasso escolar até bem recentemente. (p.48)

[...] Foi amplamente difundida a idéia de que tais problemas teriam como causa uma disfunção neurológica não-detectável em exame clinico, já citada anteriormente, chamada disfunção cerebral mínima (DCM) (p.48)

[...] O rótulo DCM foi apenas um dentre os vários diagnósticos empregados para camuflar problemas sociopedagogicos traduzidos ideologicamente em termos de psicologia individual. Termos como dislexia, disritmia, e outros também foram usados para esse fim. (p.49)

[...] No inicio da década de 80 começa a se configurar uma teoria sócio-política a respeito do fracasso escolar e o “problema de aprendizagem escolar” passa a ser concebido como “problema de ensinagem” (p.49)

[...] É fundamental abordar a questão do fracasso escolar do ponto de vista dos fatores sócio-políticos, visto que dizem respeito á manutenção das más condições de vida e subsistência de grande parte da população escolar brasileira e não podemos consentir que o discurso cientifico se preste a perpetuar tal estado de coisas.(p.50)

[...] Muito embora a psicopedagogia tenha, no seu inicio, uma tradição clinica, existe atualmente um profundo compromisso com o aspecto preventivo e, portanto com a escola. (p50).

[...] Na pratica do psicopedagogo, ainda hoje é comum receber no consultório crianças que já foram examinadas por um médico, por indicação da escola ou mesmo por iniciativa da família, devido aos problemas que está apresentando na escola. (p.50)

[...] Conforme Scoz, a psicopedagogia no Brasil hoje é a área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas dificuldades e, num a ação profissional, deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os. (p.57).

A Formação do Psicopedagogo no Brasil: uma especialização

[...] A questão da formação do psicopedagogo assume um papel de grande importância na medida em que a partir dela que se inicia o percurso para a formação da identidade desse profissional (p.63).

[...] O psicopedagogo se diferencia dos profissionais afins como fonoaudiólogos, assistentes sociais, filósofos, educadores e a nossa atuação no campo de conhecimento define a identidade profissional. (p.66)

[...] Os psicopedagogos são, hoje, os profissionais que apresentam as melhores condições de atuar na melhoria do processo de aprender e na resolução dos problemas decorrentes desse processo. (p.66)

[...] O fracasso escolar de um individuo promove sua marginalização na própria escola, na família, na sociedade. Por isso é preocupante o fato de o principal problema enfrentado pelos sistemas educacionais referir-se ás dificuldades de aprendizagem... (p.66-67)

[...] Na maioria das vezes, as crianças que enfrentam tais problemas de aprendizagem não apresentam deficiências intelectuais ou comprometimento neurológico e poderiam ser recuperadas se beneficiadas por processos e procedimentos Psicopedagogicos desenvolvidos com o apoio do especialista em psicopedagogia. (p.67)

[...] O atendimento Psicopedagogico nasceu a partir da necessidade de inúmeras crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem serem encaminhadas a um profissional que tivesse uma visão multifatorial da questão. (p.67)

[...] A marca diferencial entre o psicopedagogo e outros profissionais é que seu foco é o vetor da aprendizagem, assim como o neurologista prioriza o aspecto orgânico; o psicólogo, á ‘psique’; o pedagogo, o conteúdo escolar. (p.67)

[...] A psicopedagogia clínica procura compreender de forma global e integrada os processos cognitivos, emocionais, sociais, culturais, orgânicos, e pedagógicos que interferem na aprendizagem, a fim de possibilitar situações que resgatem o prazer de aprender em sua totalidade, incluindo a promoção da integração entre pais, professores, orientadores educacionais e demais especialistas que transitam no universo educacional do aluno. (p.67)

[...] No ensino publico, uma das opções para a realização da atuação clínica seria o serviço público de atendimento, onde os psicopedagogos poderiam contribuir com uma visão mais integrada de aprendizagem... ( p.67)

[...] Pesquisas têm demonstrado que a precariedade desses serviços e a falta de um profissional psicopedagogo têm impossibilitado a resolução dos problemas dos alunos, contribuindo para o aumento dos índices de fracasso escolar. (p.67)
[...] A Psicopedagogia assume um compromisso com a melhoria da qualidade de ensino expandido sua atuação para o espaço escolar, atendendo, sobretudo, aos problemas cruciais da educação no Brasil.(p.68)
[...] A partir da eficiência constatada na pratica clínica, os psicopedagogos estruturaram um corpo de conhecimentos Psicopedagogicos, abrindo-se, ao mesmo tempo, a um vasto campo de investigação de fenômenos envolvidos no processo da aprendizagem humana. (p.68)
[...] O psicopedagogo deve ser capaz de investir em sua formação pessoal, de maneira continua e significativa, de modo a estar apto a também desenvolver um papel profissional inovador, no qual quem ensina deve, inicialmente, ter aprendido e vivenciado o que efetivamente vai ensinar. (p.70)
[...] O psicopedagogo é o profissional que auxilia na identificação e resolução dos problemas no processo de aprender. (p.73)
[...] Um psicopedagogo, cujo objeto de estudo e trabalho é a problemática de aprendizagem, não pode deixar de observar o que sucede entre a inteligência e os desejos inconscientes. (p.75)

Um Curso Com Enfoque Preventivo
[...] Um curso de especialização deve garantir conhecimentos em função da sua proposta. (p.79)

A Especialização Como Ponto de Partida
[...] Conhecer a psicopedagogia implica um maior conhecimento de várias outras áreas, de forma a construir novos conhecimentos a partir deles. (p.80)

A Configuração Clínica da Prática Psicopedagógica
[...] O trabalho Psicopedagogico implica compreender a situação de aprendizagem do sujeito, individualmente ou em grupo, dentro do seu próprio contexto. (p.84)
[...] Requer uma modalidade particular de atuação para a situação em estudo, o que significa que não há procedimentos predeterminados. (p.84)

[...] Cada situação é única e requer do profissional atitudes especificas em relação áquela situação. (p.84)
[...] A psicopedagogia preventiva se baseia principalmente na observação e análise profunda de uma situação concreta, de forma que podemos considerar clínico o seu trabalho. (p.86)
[...] É comum a criança ou o adolescente, diante de uma dificuldade escolar, assumir um comportamento inadequado, que serve para justificar o seu baixo rendimento escolar, principalmente perante os colegas, disfarçando assim a verdadeira dificuldade. (p.87)
[...] Neste sentido é que, ao intervirmos numa dificuldade instalada, podemos estar prevenindo o aparecimento de outros problemas. (p.87)
[...] A psicopedagogia, como podemos ver, tem o seu lugar na clínica e na instituição. Cada um desses espaços implica uma metodologia especifica de trabalho. Em ambos, no entanto, devemos considerar especialmente as circunstâncias, isto é, o contexto de vida do sujeito, ou seja, a família, a escola, a comunidade. (p.87)
[...] Diz Kramer. ”Também os hábitos, costumes e valores presentes na sua família e na localidade mais próxima interferem na sua percepção de mundo e na sua inserção, e ainda também os hábitos, valores e costumes dos profissionais com que eles convivem no contexto escolar (professores, serventes, supervisores, etc.) precisam ser considerados e discutidos. (p.87)
[...] Portanto, no trabalho Psicopedagogico, devemos reconhecer e considerar a interferência desses elementos apontados por Kramer, não só nas causas dos problemas, mas também na forma de intervenção do profissional. (p.87)

A Psicopedagogia Institucional

[...] A psicopedagogia institucional se caracteriza pela própria intencionalidade do trabalho. (p.89)
[...] a demanda da instituição está associada á forma de existir do sujeito institucional, seja ele a família, a escola, uma empresa industrial, um hospital uma creche, uma organização assistencial (p.89)

O Psicopedagogo na Instituição Escolar
[...] Diz Visca, ”Eu não acho que a aprendizagem esteja restrita á escola. Eu acho que esta é a melhor forma de se transmitir algumas aprendizagens, mas não é só na escola que se aprende” (p.90)
[...] Pensar a escola, á luz da Psicopedagogia, significa analisar um processo que inclui questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo, a participação da família e da sociedade. (p.91)
[...] Investigar, analisar e realizar novas propostas para uma formação docente que considere esses aspectos constitui uma tarefa extremamente importante, da qual se ocupa a psicopedagogia. (p.94)

O Psicopedagogo na Clínica
[...] O psicopedagogo busca não só compreender o porquê de o sujeito não aprender algumas coisas, mas o que ele pode aprender e como. A busca desse conhecimento inicia-se no processo diagnostico momento em que a ênfase é a leitura da realidade daquele sujeito, para então proceder a intervenção, que é o próprio tratamento ou o encaminhamento. (p.95).
[...] A tarefa diagnóstica, tanto em nível institucional quanto clínico, é indispensável ao terapeuta. (p.95)
[...] No diagnóstico Psicopedagogico clínico, ademais de entrevistas e anamnese, utilizam-se provas psicomotoras, provas de linguagem, provas de nível mental, provas pedagógicas, provas de percepção, provas projetivas e outras conforme o referencial teórico adotado pelo profissional. (p.102)
[...] Mais importante que os instrumentos utilizados é a atitude do profissional frente á mensagem do cliente... (p.102)

O Tratamento Psicopedagógico

[...] “todo pensamento, todo comportamento humano, remete-nos á sua estruturação inconsciente, como produção inteligente e, simultaneamente, como produção simbólica” (p.105)
[...] Quando já não se pode negar que o homem é sujeito a uma ordem inconsciente e movido por desejos que desconhece, falar do tratamento Psicopedagógico significa muito mais que discorrer sobre métodos definidos de reeducação. (p.105)

O Enquadre, A Operacionalização e a Interpretação

[...] O tratamento Psicopedagógico se inicia na primeira entrevista diagnóstica, embora em geral o psicopedagogo operacionalize o trabalho em duas etapas, diagnóstico e tratamento. (p.107)
[...] O ponto mais frágil na formação do psicopedagogo brasileiro: a falta de aprofundamento teórico e de recursos pessoais para a interpretação, a fim de que o profissional possa ver além do aparente, sem que isto signifique um jogo de adivinhação. (p.108)
[...] Sara Paín postula que o profissional, para cumprir os objetivos e garantir o enquadre no trabalho Psicopedagógico, deve adotar certas técnicas. São elas: organização prévia da tarefa; graduação nas dificuldades das tarefas; auto-avaliação de cada tarefa a partir de determinada finalidade; historicidade do processo, de forma que o paciente possa reconhecer sua trajetória no tratamento; informações a serem oferecidas ao sujeito pelo psicopedagogo, num nível em que possa integrá-las ao seu repertório intelectual e construir o mundo que habita... (p.108)
[...] O fato é que a complexidade da dimensão psíquica requer do profissional que lida com os problemas de aprendizagem muito mais do que o bom manejo de técnicas pedagógicas... (p.108)
[...] O problema de aprendizagem funciona como uma mensagem simbólica que o paciente traz como um texto subjetivo, o qual, se tomando em seu sentido literal, encobre a sua verdadeira função. (p.109)
[...] Vale mencionar que, no referente ás estratégias de operacionalização do trabalho Psicopedagógico, o jogo se constitui num excelente catalisador de aprendizagem, Rompe defesas, permite á criança projetar seus conflitos e revivê-los, manejando-os de acordo com o seu desejo. Como diz Winnicoot, o jogo é o espaço de criação. (p.111)

O Lugar do Jogo no tratamento Psicopedagogico

[...] Do ponto de vista cognitivo, significa a via de acesso ao saber. No jogo se faz próprio o conhecimento que é do outro, construindo o saber. (p.111)
[...] Conforme aponta Fernández, ”não pode haver construção do saber se não se joga com o conhecimento”, pois o saber é a incorporação do conhecimento numa construção pessoal relacionada com o fazer. (p.111)
[...] Piaget afirma que o jogo simbólico, que surge ao redor dos dois anos, permite á criança assimilar o mundo á medida do seu eu, deformando-o para atender os seus desejos e fantasias. (p.111)

[...] O tratamento Psicopedagógico, paralelamente a outros, tem se mostrado de muita valia no que diz respeito á incursão da criança num meio sociocultural, uma vez que proporciona condições mais tranqüilas de escolaridade. (p.113)

[...] A reeducação não constitui apenas um treinamento em relação ao exercício, mas, sobretudo uma tentativa de reconciliar o individuo com certo registro da ação e da comunicação, uma forma de psicoterapia. (p.116)


[...] É importante que o psicopedagogo possa jogar o jogo da criança, sem, no entanto perder de vista o seu compromisso com a aprendizagem e lembrando que toda relação do sujeito com o mundo, depois que deixa de ser conseqüência de um reflexo, demanda aprendizagem. (p.117)


Conclusão (1ª opção)


Eu retomo nesta breve conclusão, alguma coisa que já foi de um modo ou outro falada no decorrer do livro. Meu intuito é apenas sublinhar algumas questões.
O trabalho Psicopedagógico é voltado não só para descompassos na aprendizagem, mas também para a melhoria da qualidade do ensino nas escolas.

Conclusão (2ª opção)


Optei por retomar nesta breve conclusão, algumas questões que já foram citadas no decorrer do Fichamento porque acredito que é pertinente ressaltar aspectos importantes relacionados ao objeto de trabalho Psicopedagogico como: Reflexões quanto á pratica e regulamentação da profissão, manejo dos afetos no processo de aprendizagem, conhecimentos de diversas áreas que fundamentam a teoria psicopedagogica.
O trabalho Psicopedagógico é voltado não só para descompassos na aprendizagem, mas também para a melhoria da qualidade do ensino nas escolas


Outcaracterísticbastante relevante na obra é a preocupação da autora em demonstrar o papel do psicopedagogo na sua atuação enquanto profissional. A obra traz contribuições teóricas de grande valia para o profissional psicopedagogo, oportuniza reflexões profundas quanto à prática psicopedagógica, a regulamentação da profissão e a construção dos saberes construídos e constituídos na história do indivíduo. Podemos compreender resumidamente a real necessidade do trabalho do psicopedagogo e, ao mesmo tempo, questionar sobre o porquê da profissão ainda não ser reconhecida no Brasil, mesmo sabendo que este profissional poderá contribuir para a qualificação da escola pública com um trabalho sistêmico que pode ser desenvolvido na escola, do ponto de vista didático-metodologico, cuja função principal seria articular relações afetivas, cognitivas e sociais com vistas ao aprimoramento constante do processo de aprendizagem.
É conveniente ressaltar que o psicopedagogo institucional pode oportunizar que professores diretores e coordenadores repensem o papel da escola frente às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem. A abordagem psicopedagógica solicita não apenas um bom manejo de técnicas de intervenção, mas fundamentalmente um bom manejo dos afetos no processo de aprendizagem, focando a atenção no bem estar do sujeito.
Podemos perceber através da obra que as intervenções psicopedagógicas se dão a partir de uma postura investigadora do psicopedagogo seja na clinica ou na instituição, e que os profissionais brasileiros e argentinos comungam do mesmo objeto de estudo que é “o processo de aprendizagem.” São unânimes quanto à necessidade de conhecimentos de diversas áreas que, articulados devem fundamentar a constituição de uma teoria psicopedagógica.
Um segundo ponto que gostaria de enfatizar é a questão do jogo no tratamento Psicopedagogico. Ele tem valor formativo porque supõe relação social, interação. Por isso, a participação em jogos contribui para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo, solidariedade, cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidade, iniciativa pessoal e grupal. É jogando que se aprende o valor do grupo como força integradora, da colaboração consciente e espontânea e o sentido da competição.
Para finalizar quero novamente ressaltar que a psicopedagogia brasileira vem construindo seu próprio caminho, mas sua concepção ainda não é uniforme vejo que não se consegue definir totalmente o campo de atuação profissional do psicopedagogo devido ao fato de continuar ainda com muitos desafios, como: Quem é esse profissional? Qual deve ser a sua formação e atuação profissional? Como criar técnicas e teorias especificas? Como diz Scoz, “o Psicopedagogo enfrenta dificuldades em construir uma identidade própria.”